Arquivo da tag: Crítica da literatura

Silviano Santiago sobre Mário de Andrade

No site do Estadão, encontra-se um artigo de Silviano Santiago publicado no dia 21 de fevereiro deste ano. Nesse artigo, Silviano avalia a importância da obra de Mário de Andrade para o século XXI: “No ano em que se completam os 70 anos da morte de Mário de Andrade (25/2/1945) e em que a Flip se adianta e valoriza a data, visto a pele de um incômodo Mallarmé e me pergunta se a ‘eternidade’ apenas o transformará no maior intelectual brasileiro da primeira metade do século XX. Começo pela pergunta exigente porque são vários os obstáculos que dificultam armazenar a figura de Mário no século XXI.” Leia o artigo completo no site.

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A pintura em Clarice Lispector

Reproduzo a resenha que publiquei na revista Ler de outubro de 2013:

            O Instituto Moreira Salles publicou, em 2012, o imprescindível Figuras da escrita, de Carlos Mendes de Sousa, professor de literatura brasileira da Universidade do Minho. Trata-se da leitura mais completa e profunda já realizada acerca da prosa clariciana. Neste ano, a editora Rocco lançou o seu Clarice Lispector – pinturas, ainda inédito em Portugal. O presente estudo revela a mais extensa análise de uma questão apenas discutida brevemente por alguns críticos brasileiros, o que justifica, de antemão, o interesse acerca desse novo título e o lugar especial que esse especialista mantém na fortuna crítica voltada à complexa obra de Clarice Lispector  

            Novamente, evidencia-se o notável caráter investigativo de Carlos Mendes de Sousa, agora lançando diversas perspectivas às artes plásticas na vida e na obra dessa autora nascida na Ucrânia e naturalizada no Brasil. Foram reunidos, sob o foco de sua minuciosa lente de investigação, entrevistas realizadas pela autora e com a autora, cartas, crônicas, trechos de ficção, fotografias, sua biblioteca, gravuras e pinturas do acervo pessoal de Clarice, além das pinturas criadas por ela, que estão sob a guarda do Arquivo-Museu de Literatura Brasileira e do Instituto Moreira Salles. A edição, em papel couchê, reproduz tais obras de artes plásticas, o que garante ao livro um outro atributo louvável. Considerações de caráter biográfico também se encontram à disposição dos leitores, por meio de um texto claro e sedutor, de fácil acesso inclusive aos não especialistas.

            Clarice Lispector – pinturas não abandona o gosto identificado em Figuras da escrita pela gênese de criação. Após constatar a leitura e os sublinhados da autora sobre um livro de Paul Valéry, Degas, danse, dessin, Carlos Mendes de Sousa analisa: “Segundo Valéry, no livro acima citado, um criador só pode entender totalmente aquilo que já foi encontrado dentro de si. O que Clarice terá lido, nos anos 1940, irá iluminar, na década de 1970, um modo de criar que seguirá o lema da procura mais funda que sempre a orientou. Até chegar ao ponto de ela própria pintar, naturalmente, não por acaso, mas como um modo de se interrogar no interior do ato criativo.” Sem dúvida alguma, sua consideração é um tanto quanto inesperada, se levarem-se em conta as muitas declarações de Clarice Lispector a assegurar seu método intuitivo de criação. Mas, por outro lado, a experiência de ver obras de artes plásticas durante sua fase na Europa, ao lado do marido diplomata, indica uma atenção crescente dedicada ao “indecifrável”, como o autor observa a partir de uma carta da autora destinada à sua irmã, Elisa.

            Acerca das pinturas de Clarice Lispector, que sempre despertaram muita curiosidade em seus leitores mais ardorosos, Carlos Mendes de Sousa percebe a existência de dois movimentos: “a fuga e a concentração”; “ao lado do centramento, as linhas em desordem”. Mostram-se, por tensões frequentes em suas pinturas, um “combate explicitado” que, por um jogo de espelhamento, aproxima seus traços à “própria escrita da autora plena de contrastes”.

            Clarice Lispector – pinturas é um livro valioso não apenas para estudiosos e um exemplo inquestionável de uma metodologia de pesquisa que leva a análise de uma obra ao seu limite, iluminando uma série de pontos ocultos de uma escritora que sempre esteve mais ao lado do mistério e do enigma do que da compreensão de fácil acesso.

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Prêmio Faz Diferença 2011

Reproduzido do site do jornal O Globo:

Ítalo Moriconi

Suzana Velasco – suzana.velasco@oglobo.com.br

O trabalho de Italo Moriconi na Bienal do Livro – ele foi curador do Café Literário pela segunda vez – foi mais um dos esforços desse professor de literatura brasileira da Uerj em empreender uma mediação entre universidade, autores, grande público e mercado.

– Minha preocupação era garantir um lugar para a literatura brasileira, pôr em contato com o público uma geração muito ativa nos últimos 15 anos. É a concretização de um perfil que venho construindo há muito tempo – diz Moriconi.

Um dos momentos cruciais nessa construção foi a organização, no início dos anos 2000, de duas coletâneas para a editora Objetiva, em que o crítico selecionou os cem melhores contos e os cem melhores poemas do século XX. Sucesso de público, o projeto – que não escapou de críticas no meio universitário – foi, para Moriconi, o primeiro passo para romper as barreiras da academia.

– Atravessei os muros da universidade na organização desses livros, tendo contato com a nova realidade do mercado. Já estava cansado de ficar só no cânone das obras universitárias – diz ele, cujos projetos de pesquisa sempre se relacionaram à prosa e à poesia contemporâneas. – Quero pensar como o conhecimento acadêmico pode interagir com os movimentos literários contemporâneos.

Outro passo importante nessa trajetória foi assumir, em 2008, a direção da editora da Uerj. O objetivo de Moriconi é atingir o mercado do livro universitário – que no exterior é em grande parte abastecido pelas editoras ligadas a essas instituições. Pela EdUerj, ele organizou a coleção Ciranda da Poesia, dedicada à crítica da produção contemporânea, sempre acompanhada de uma antologia de poemas do autor em questão. Para ele, essa é uma forma de o leitor se familiarizar com uma linguagem com a qual nem sempre tem intimidade. Em abril e maio, a coleção publicará poetas estrangeiros.

A pesquisadora Heloisa Buarque de Hollanda, editora da Aeroplano – que publicou uma seleção de cartas de Caio Fernando Abreu feita por Moriconi -, ressalta a qualidade do crítico de correr riscos.

– Ele sempre mostrou uma curiosidade enorme pelo contemporâneo e pelos assuntos que a academia considera menores. Mas a História já demonstrou que as formações discursivas emergentes vão se consolidar como as novas séries literárias bem mais rápido do que se pensa. E o Italo trabalha muito bem essa zona de risco – diz Heloisa.

O professor e poeta lembra que hoje as universidades são muito mais abertas à pesquisa sobre a produção literária contemporânea, citando a Uerj e a PUC-Rio, além de núcleos em Minas Gerais e Brasília. Mas ainda vê outras possibilidades no futuro:

– Em certo sentido, a separação entre Letras e Comunicação foi ruim para o estudo da literatura contemporânea. Estou preocupado com a formação de quadros para o novo tipo de comunicação dos blogs, da internet, e com a redefinição do jornalismo impresso. A faculdade de Letras pode contribuir para isso.

Este ano, Moriconi participa da comissão de seleção de 20 escritores para o primeiro número da prestigiada revista americana “Granta” dedicado à literatura contemporânea nacional. Editado pela Objetiva, “Os melhores jovens autores brasileiros” será lançado em julho, durante a décima edição da Festa Literária Internacional de Paraty.

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Poesia brasileira na revista Jacket

A recomendação é de Angélica Freitas: Hilary Kaplan tem uma coluna sobre poesia brasileira na revista Jacket.

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Crítica e redes sociais, de Miguel Sanches Neto

Recomendo a leitura do ensaio de Miguel Sanches Neto publicado no site do jornal Rascunho. O ensaio se intitula “Crítica e redes sociais” e faz um panorama analítico da crítica de rodapé ao uso das redes sociais. Há reflexões interessantes sobre o que muitos denominam “o fim da crítica”: “O modelo de rodapé, em que se previa a existência de críticos responsáveis pela leitura de “toda” a produção válida de um determinado momento e/ou lugar, se torna impraticável com o acréscimo desenfreado de novos autores.” “O mestre da crítica, aquele homem de letras dedicado a compreender o fenômeno literário dentro das regras próprias da literatura, e sempre tendo como parâmetro um cânone mais ou menos fixo, ou com uma modificação lenta, se inviabiliza por não dar conta da variedade e da rapidez das ofertas”, afirma Sanches Neto.

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Prêmio Pessoa 2011

Reproduzido do jornal Público:

O anúncio foi feito, como habitualmente, no Palácio de Seteais em Sintra por Francisco Pinto Balsemão, que preside ao júri também constituído por Fernando Faria de Oliveira (Vice-Presidente), António Barreto, Clara Ferreira Alves, Diogo Lucena, João Lobo Antunes, José Luís Porfírio, Maria de Sousa, Mário Soares, Miguel Veiga e Rui Magalhães Baião.

“Num momento crítico da História e da sociedade portuguesa, torna-se imperioso e urgente prestar reconhecimento ao exemplo de uma personalidade intelectual, cultural, ética e cívica que marcou o século XX português”, escreveu o júri em comunicado sobre a escolha de Eduardo Lourenço, homenageando “a generosidade e a modéstia desta sabedoria, que tendo deixado uma marca universal nos Estudos Portugueses e nos Estudos Pessoanos, nunca desdenhou a heteredoxia nem as grandes questões do nosso tempo e da nossa identidade”.

Para o júri, do qual Eduardo Lourenço foi membro até 1993, este prémio pretende prestigiar o filósofo e a sua intervenção na sociedade, “ao longo de décadas de dedicação, labor e curiosidade intelectual, que o levaram à constituição de uma obra filosófica, ensaística e literária sem paralelo”.

“Não há dúvida que o nosso premiado é uma referência e o nosso país precisa de referências”, disse Pinto Balsemão na entrega do prémio a Eduardo Lourenço.

Também Mário Soares destacou a importância deste prémio nos dias de hoje. “Num momento como este é particularmente importante dar o prémio a Eduardo Lourenço porque para além de tudo é um homem que acredita em Portugal e nos portugueses”, disse em Sintra.

Segundo o comunicado do júri, “Eduardo Lourenço é um português de que os portugueses se podem e devem orgulhar. O espírito de Eduardo Lourenço foi sempre reforçado pela sua cidadania atenta e actuante. Portugal precisa de vozes como esta. E de obras como esta”.

O prémio, de 60 mil euros, é uma iniciativa do jornal “Expresso” (do grupo Impresa de que é presidente executivo Pinto Balsemão) e tem o patrocínio da Caixa Geral dos Depósitos.

Os escritores Herberto Hélder, Vasco Graça Moura, a pianista Maria Joao Pires ou o bispo D. Manuel Clemente foram alguns dos nomes premiados com o galardão que comemora este ano o 25º aniversário. A vencedora do ano passado foi a cientista Maria do Carmo Fonseca, directora executiva do Instituto de Medicina Molecular da Universidade de Lisboa. O júri – que diz querer ir contra “uma velha tradição nacional” de apenas reconhecer postumamente os autores de grandes obras e promover o seu reconhecimento em vida – destacou a sua “cultura de rigor”.

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Vídeos do II Seminário Internacional de Crítica Literária

Louvável a iniciativa do Itaú Cultura disponibilizar vídeos das conferências do II Seminário Internacional de Crítica Literária. [Via mural do Grupo de Pesquisa em Literatura Brasileira Contemporânea, postado por Laeticia Jensen Eble]

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“…certos poetas elegantes, apesar de gordos”

Na citadíssima e muito discutida crítica de Monteiro Lobato “A propósito da Exposição Malfatti”, publicada no Estado de S. Paulo 8 dias após a vernissage, há certas considerações que hoje seriam absolutamente condenáveis, como esta: “Na poesia também surgem, às vezes, furúnculos desta ordem [trata-se de “furúnculos da cultura”, conforme trecho anterior], provenientes da cegueira nata de certos poetas elegantes, apesar de gordos, e a justificativa é sempre a mesma: arte moderna.” O “poeta gordo”, conforme Mário da Silva Brito, é uma alusão a Oswald de Andrade.

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José Aderaldo Castello

Reproduzo o texto do mural do Facebook de Ivan Marques:

“Sempre evitei falar de mim, / falar-me. Quis falar de coisas. / Mas na seleção dessas coisas / não haverá um falar de mim?”

Versos de João Cabral de Melo Neto, nos quais José Aderaldo Castello dizia encontrar inspiração e justificativa para sua própria obra. Crítico e historiador da literatura brasileira, o professor Castello estudou a literatura colonial, o Modernismo, o romance do Nordeste, entre outros temas, buscando revelar e preencher claros importantes. Morreu esta semana em São Paulo, aos 90 anos, discretamente.

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Poesia 61 hoje

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