debaixo da copa rala da
amendoeira
os galhos finos do Haiti se enroscam
contra o sol
a praia está sonâmbula
é agora um lugar de guardar navios gigantes
que trazem gente de toda parte
mas não para olhar o Haiti
assim debaixo contra as folhas
tenras da amendoeira
não para olhar o sol
do Haiti lá em cima
além das flores miúdas
da amendoeira
centenas desembarcam para
molhar os pés noutra língua
encharcar-se de outros fugir-se
dizer que pousaram noutro país
tão estranho quanto o seu
– que graça há se não se volta
para contar o que é o Haiti sem
a igual amendoeira da infância? –
enquanto no Haiti a amendoeira
descansa invisível
sobre a areia que não é mais
a areia de 1492
onde Colombo pisou
conforme anuncia o encarte
distribuído aos visitantes que
pagaram algumas centenas de dólares
para comer hambúrgueres e
cranberry juice
com hora marcada na ilha
de Labadee
nela uma amendoeira jovem
encara de longe o navio
de dezessete andares
de uma companhia dinamarquesa
porque não o Haiti não é aqui
sob o vento da velha ilha de Labadee
very very grateful for everybody
coming here
o Haiti quem sabe
nem fale inglês
nem francês
nem espanhol
nem português
mas possa ensinar aos cruisers
enjoados com o balanço do navio
o que seja
to shake shake shake
during a fucking real
earthquake