Acervo dos Escritores Mineiros da UFMG

Recebi esta matéria do bibliotecário Hugo Porto Soares. Foi publicada no jornal O Estado de Minas e assinada pelo excelente Carlos Herculano Lopes:

Uma fascinante viagem pelo universo literário de Minas, com todas as suas peculiaridades, pode ser feita ao se visitar o Acervo de Escritores Mineiros, instalado na Biblioteca Universitária da UFMG, câmpus da Pampulha, onde ocupa espaço de 800 metros quadrados, com ampliação prevista de mais 400. Em um ambiente tranqüilo, propenso à leitura e à reflexão, ali o visitante poderá entrar na intimidade de alguns dos maiores escritores do país, como Henriqueta Lisboa, Cyro dos Anjos, Oswaldo França Júnior, Abgar Renault e Murilo Rubião, cujas bibliotecas particulares, acrescidas de cartas, centenas de fotografias, documentos e objetos pessoais, foram doadas por suas famílias à entidade. O acervo acaba de ser enriquecido com quatro novas e preciosas doações: as bibliotecas pessoais dos escritores Wander Pirolli, Achilles Vivacqua, Octávio Dias Leite e José Maria Cançado. Os novos arquivos ainda estão sendo organizados e devem, em breve, estar à disposição do público. Para o professor Wander Melo Miranda, diretor do Acervo de Escritores Mineiros, as novas aquisições, pela qualidade e diversidade do material recebido, são da máxima importância e irão dar uma dimensão ainda maior ao patrimônio já existente.

“No caso de Achilles Vivacqua, por exemplo, os pesquisadores e visitantes poderão saber como funcionava o famoso Salão Vivacqua, por onde passava toda a intelectualidade mineira dos anos de 1920, para participar de seus concorridos saraus lítero-musicais, que marcaram época em Belo Horizonte. Ali estiveram escritores, críticos literários, cantores, políticos e artistas das mais diversas áreas. Já no acervo de Wander Pirolli, além de vários textos inéditos deixados por ele, também estão centenas de livros e muitos documentos, o mesmo ocorrendo com a biblioteca e documentos de Octávio Dias Leite, igualmente importantes . Dele nós já tínhamos algumas cartas, que nos foram doadas pelo professor Walmiki Vilella Guimarães. São correspondências com pessoas conhecidas da cultura brasileira, como Graciliano Ramos e o maestro Villa-Lobos, dos quais Octávio Dias Leite era amigo ”, informa Wander Miranda.

Quanto ao acervo de José Maria Cançado, que morreu no ano passado, o diretor explica que, além de toda a sua biblioteca, há ainda centenas de textos, que estão sendo lidos e anotados pelo professor Juarez Guimarães, da UFMG, para possível publicação. “Todo este material, em breve, estará aqui conosco”, diz Wander, que está impressionado com a riqueza do acervo deixado por José Maria Cançado, que era mineiro de Belo Horizonte. Dele, a Editora da UFMG irá lançar, provavelmente ainda este ano, um volume contendo os três livros de poemas que ele deixou, sendo dois inéditos: Saparia barroca e Gaviões e passarinhos, além de O transplante é um baião de dois, que saiu pouco antes da sua morte. A editora irá reeditar também o ensaio que Cançado escreveu sobre o romancista francês Marcel Proust.

 

 

Murilo Rubião

 

BAÚ DE TESOUROS LITERÁRIOS
Alunos e pesquisadores desenvolvem trabalhos a partir de material reunido no Acervo de Escritores Mineiros. Universidade inicia este ano projeto de publicação de inéditos

Com cerca de 25 mil volumes, fora os das novas doações ainda em processo de catalogação, e quase 80 mil documentos já devidamente identificados, o Acervo de Escritores Mineiros começou a ser desenvolvido em 1991. Além das bibliotecas e documentos de escritores, doados por suas famílias, o interessado tem à disposiçaão obras raras do modernismo brasileiro, assim como coleções de jornais, manuscritos e fotografias de artistas e intelectuais brasileiros e estrangeiros. “Existe um espaço amplo para o trabalho dos pesquisadores e bolsistas, com sala de reunião e infra-estrutura operacional, com sistema de iluminação, ventilação e segurança, tudo dentro dos padrões técnicos apropriados”, afirma o professor Wander Miranda.

Inaugurado como espaço definitivo em 2003, com o objetivo de preservar a memória literária de Minas Gerais, no Acervo de Escritores Mineiros estão ainda, além das já citadas, coleções que pertenceram a Alexandre Eulálio, Ana Hatherly, Aníbal Machado, José Oswaldo Araújo, Walmiki Vilella Guimarães e Genevieve Naylor. Essas, compostas, de acordo com Wander Melo Miranda, de bibliotecas, documentos pessoais e profissionais, manuscritos, mobiliário e pinacoteca, acessíveis a pesquisadores, estudantes e à comunidade em geral.

Wander Melo Miranda informa que está organizando, com material do próprio acervo, três volumes com textos esparsos e crônicas de Cyro dos Anjos, que foram publicados em jornais mineiros na década de 1930. Os livros serão lançados a partir do ano que vem pela Editora Globo, assim como outro volume, com a correspondência mantida durante anos entre o autor de O amanuense Belmiro e Carlos Drummond de Andrade. “Devemos também publicar, ainda neste semestre, um volume sobre dois seminários que foram realizados aqui na UFMG, tendo como tema a obra dos escritores mineiros e sobre questões da modernidade em Minas e no Brasil”, diz Wander.

PESQUISAS EM ANDAMENTO

Entre os vários interessados que desfrutam de todo vasto material existente no Acervo de Escritores Mineiros encontram-se os estudantes de letras da UFMG Raphael Dias Barcellos, do terceiro período, Letícia Malloy, do segundo, e Melissa Cobre Torre, do oitavo. Há alguns meses – com a colaboração de Márcio Flávio Torres Pimenta, secretário do Centro de Estudos Literários da Faculdade de Letras da UFMG, e do estudante de biblioteconomia Murilo Luis Gentil –, eles realizam projeto de iniciação científica, sob a orientação da professora Haydée Ribeiro Coelho, sobre “América Latina no Suplemento Literário de Minas Gerais”. Toda a coleção do Suplemento, que foi criado por Murilo Rubião em 1966, e ainda é editado pela Secretaria de Estado da Cultura, também se encontra no acervo, cuidadosamente encadernada e à disposição dos pesquisadores. A edição de junho da publicação foi integralmente dedicada ao Acervo de Escritores Mineiros.

“Estamos fazendo uma interlocução entre autores mineiros e latino-americanos, e aqui temos encontrado muita coisa interessante, como por exemplo vários documentos sobre a ida de Oswaldo França Júnior a Cuba, onde ele foi jurado do Prêmio Casa das Américas, e na volta escreveu um romance sobre sua experiência – Recordações de amar em Cuba. Ou então as cartas trocadas entre Henriqueta Lisboa e a poeta chilena Gabriela Mistral, e ainda a correspondência entre Murilo Rubião e o argentino Júlio Cortázar, que visitou Minas nos anos de 1960”, diz Raphael Barcellos. Além deste trabalho, Letícia Malloy lembra ainda que, no acervo, ela está tendo também acesso à correspondência de Mário de Andrade e Henriqueta Lisboa; de Cyro dos Anjos com Carlos Drummond de Andrade, além de uma cópia do diário de Guimarães Rosa, escrito quando ele era cônsul do Brasil na Alemanha. “Tem tanta coisa boa aqui, que dá vontade de ficar o dia inteiro pesquisando”, diz Letícia Malloy.

Acervo dos Escritores Mineiros: Biblioteca Central da UFMG, 3º andar, câmpus da Pampulha, Avenida Antônio Carlos, 6.627. Informações: (31) 3499-4624. Site: www.ufmg.br/aem