5 peças de Arthur Miller

A editora Companhia das Letras acaba de publicar A morte de um caixeiro-viajante e outras 4 peças de Arthur Miller, traduzidas por José Rubens Siqueira e com prefácio de Otavio Frias Filho. A morte de um caixeiro-viajante talvez seja a obra mais notável de Arthur Miller, cuja última encenação no Rio de Janeiro talvez tenha sido a de Felipe Hirsch, em 2003, com cenografia de Daniela Thomas, Marco Nanini no papel de Willy Loman e Juliana Carneiro da Cunha no de Linda Loman. Esses dois grandes atores fizeram interpretações comoventes, muito precisos e com domínio da carga dramática que as cenas exigiam de seus personagens, mas os demais papéis eram preenchidos insatisfatoriamente, o que muitas vezes perturbava a beleza de certos diálogos. Por fim, de tudo na peça, o que mais marcava era mesmo o texto.

As rubricas da peça são muito bem desenvolvidas, expondo toda a habilidade narrativa de Arthur Miller. É um prazer a mais que a peça, quando lida, pode dar ao leitor, como na p. 177:

Sobe a luz no quarto dos rapazes. Fora de cena, ouve-se Willy falando consigo mesmo: “Cento e trinta mil quilômetros” e uma breve risada. Biff sai da cama, avança um pouco e para, atento. Biff é dois anos mais velho que seu irmão, Happy, forte, musculoso mas nesta momento com um ar esgotado, e parece menos seguro de si. Ele se deu pior e seus sonhos são mais fortes e menos aceitáveis que os de Happy. Happy é alto, de constituição forte. A sexualidade é como um colorido visível nele, ou um aroma que muitas mulheres descobriram. Ele, assim como o irmão, está perdido, mas de maneira diferente, porque nunca se permitiu encarar a derrota e, portanto, é mais confuso e resistente, embora aparentemente mais satisfeito.

São rubricas que generosamente, embora concisas, fornecem dados fundamentais para a constituição psicológica dos personagens, que revelam força e fragilidade tocantes, representando com muita veracidade as angústias acerca do sucesso, os limites impostos pelo envelhecimento, a insegurança diante das escolhas, as ilusões, a transformação da cidade e sobretudo a aproximação da morte ao longo das 24 horas finais da vida de Willy Loman. Por meio delas também é visualizar a concepção física da peça, com um cenário inteligente e funcional, cuja mobilidade parece se intensificar pelo uso da luz.

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