A poesia é a ficção suprema, madame.
Tome a lei moral e faça dela uma nave
E da nave construa o céu assombrado. Assim,
A consciência é convertida em palmas,
Como cítaras de vento ansiando por hinos.
Em princípio concordamos. É claro. Mas tome
A lei oposta e faça um peristilo,
E do peristilo projete uma mascarada
Para lá dos planetas. Assim, a nossa indecência,
Não expurgada por epitáfio, praticado por fim,
É igualmente convertida em palmas,
Meneando-se como saxofones. E palma por palma,
Madame, estamos onde começamos. Permita,
Portanto, que na cena planetária
Os seus flageladores desafetos, bem-comidos,
Em parada, batendo nas barrigas entontecidas,
Orgulhosos de tais novidades do sublime,
Tais trrran-tan-tan e trrrum-tum-tum,
Possam, meramente possam, madame, arrancar de
si mesmos,
Uma jovial algazarra entre as esferas.
Isto fará crispar as viúvas. Mas coisas fictícias
Piscam quando querem. Piscam mais quando as
viúvas se crispam.
Do livro Ficção suprema, tradução de Luísa Maria Lucas Queiroz Campos,
Lisboa, Assírio & Alvim