“O AMOR EM VISITA”
Quando se fizer o filme das despedidas de amantes em estações de trem, não há nenhuma que se compare às do cinema italiano ou de filmes passados na Itália. Ontem, à saída de “Me chame pelo seu nome”, dizia o rapaz à jovem, talvez a namorada, não gostei do filme, muito longo, não gosto do didatismo do pai (Talvez tenha lido críticas favoráveis ao “120”). Não concordo. No justo discurso do Pai (num ponto remoto do norte da Itália), sabedor do relacionamento homoerótico do filho com o colega pesquisador em visita, o que vejo é a expressão comovida, inteligente, entre uma vivência pessoal homoafetiva não assumida no passado e a experiência adquirida no presente, através do amor do próprio Filho pelo seu visitante, vindo da conservadora Nova Inglaterra. Sobre a pedagogia (não a didática) do amor homoerótico, “120 batimentos por minuto” também nos ensina. São dois filmes tão próximos quanto distantes. Avançar na hipótese exigiria um ensaio, não uma resposta ao meu querido Eduardo. Se houver ensaio, em primeiro lugar, o ritmo entre os dois filmes, prestíssimo no francês – quem morre por Amor tem pressa pela vida – e pianíssimo no italiano – quem morre de Amor não, tem medo da despedida –, marcará os seus batimentos. Em segundo lugar, o papel da Mãe nos dois filmes, seja entre Sean e Nathan, seja entre Elio e Oliver, é uma questão a exigir tempo de ensaio e erro. Talvez por erro de tradução – por onde anda meu francês, ó maître – a reação da mãe chilena (que só aparece no fim) ao saber da morte do filho, Sean, de pai ausente, se manifesta num “droga”, que não me parece ambíguo, sequer (?). Tenho que apurar a “análise”, porém. Voltar ao fim do filme, interpretar a porcentagem de cinzas que também ela quer para si. Para o pai de Elio, na cena da lição “didática” que não agrada ao jovem (talvez) universitário, a mãe não sabe de nada. (Embora o seu silêncio, eloquente no gesto e no olhar parados, o desminta). Igualmente ignorantes (ou cúmplices, talvez, pela juventude) das sexualidades (arqueológicas em certa medida) em exibição na tela, me parecem as jovens, secundárias, usadas como corpos de ensaio para os amantes protagonistas. De ouvido atento às várias línguas faladas e às diferentes linguagens em jogo nos dois filmes, interessa notar o nome em jogo entre o político e o erótico (não necessariamente entre o público e o privado). Num, a AIDS, a droga, a posse da dose justa que a enfrenta, sua economia de troca e propaganda, na luta dos ativistas do Act Up contra o Governo e o Laboratório; noutro, me chame pelo seu nome Elio que eu o chamo pelo meu nome Oliver, uma troca perfeita, na ilusão de amantes de que há rapport sexuel, não uma luta entre dois contrários, um contra o outro. De ouvido de tuberculoso, de professor, digo, de uma coisa eu tenho certeza, foi o tempo quem me confirmou, quando se fizer a sequência das cenas de despedida de amor e dor nas estações de trem, “Me chame pelo seu nome” é já um carro-chefe. Sim. Chame pelo Nome da Mãe para [me] o levar de volta pra casa. E é isso que faz Elio ao atravessar o verão que termina, o outono que se aproxima, para chegar ao inverno do seu amadurecimento. E é uma bela cena, a final, entre lágrimas (de um lago outro) e o fogo da lareira (o verão domesticado). E é uma bela cena de renascimento, afinal, em que a mãe o chama pelo seu nome próprio – ELIO – para sentar-se à mesa. E parece Natal.
Quando se fizer o filme das despedidas de amantes em estações de trem, não há nenhuma que se compare às do cinema italiano ou de filmes passados na Itália. Ontem, à saída de “Me chame pelo seu nome”, dizia o rapaz à jovem, talvez a namorada, não gostei do filme, muito longo, não gosto do didatismo do pai (Talvez tenha lido críticas favoráveis ao “120”). Não concordo. No justo discurso do Pai (num ponto remoto do norte da Itália), sabedor do relacionamento homoerótico do filho com o ex-aluno em visita, o que vejo é a expressão comovida, inteligente, entre uma vivência pessoal homoafetiva não assumida no passado e a experiência adquirida no presente, através do amor do próprio Filho pelo seu visitante, vindo do interior da conservadora Nova Inglaterra. Sobre a pedagogia (não a didática) do amor homoerótico, “120 batimentos por minuto” também nos ensina. São dois filmes tão próximos quanto distantes. Avançar na hipótese exigiria um ensaio, não uma resposta ao meu querido Eduardo. Se houver ensaio, em primeiro lugar, o ritmo entre os dois filmes, prestíssimo no francês – quem morre por Amor tem pressa pela vida – e pianíssimo no italiano – quem morre de Amor não, tem medo da despedida –, marcará os seus batimentos. Em segundo lugar, o papel da Mãe nos dois filmes, seja entre Sean e Nathan, seja entre Elio e Oliver, é uma questão a exigir tempo de ensaio e erro. Talvez por erro de tradução – por onde anda meu francês, ó maître – a reação da mãe chilena (que só aparece no fim) ao saber da morte do filho, Sean, de pai ausente, se manifesta num “droga” (merde?), que, em português soe ambíguo, talvez. Tem um não-sei-o-quê de mal acordado o seu luto. Tenho que apurar a “análise”, porém. Voltar ao fim do filme, interpretar a porcentagem de cinzas que também ela quer para si. Na montagem do texto, um trabalho de corte à maneira do [corte] cinematográfico, vale a pena rever a participação no [h]AJA AGORA da mãe ativista do menino que pegou AIDS via transfusão de sangue, indo ao encontro da mãe da vítima da vez, Sean, ou do seu (im)provável futuro. Para o pai de Elio, na cena da lição “didática” que não agrada ao jovem (talvez) universitário, a mãe não sabe de nada. (Embora o seu silêncio, eloquente no gesto e no olhar parados, o desminta). Ignorantes (ou cúmplices, talvez, pela juventude) das sexualidades (arqueológicas em certa medida) em exibição na tela, me parecem as jovens, secundárias, usadas como corpos de ensaio para os amantes protagonistas. De ouvido atento às várias línguas faladas e às diferentes linguagens em jogo nos dois filmes, interessa notar o nome em jogo entre o político e o erótico (não necessariamente entre o público e o privado). Num, a AIDS, a droga, a posse da dose justa que a enfrenta, sua economia de troca e propaganda, na luta dos ativistas do Act Up contra o Governo e o Laboratório; noutro, me chame pelo seu nome Elio que eu o chamo pelo meu nome Oliver, uma troca perfeita, na ilusão de amantes de que há rapport sexuel, não uma luta entre dois contrários, um contra o outro. De ouvido de tuberculoso, de professor, digo, de uma coisa eu tenho certeza, foi o tempo quem me confirmou, quando se fizer a sequência das cenas de despedida de amor e dor nas estações de trem, “Me chame pelo seu nome” é já um carro-chefe. Sim. Chame pelo Nome da Mãe para [me] o levar de volta pra casa. E é isso que faz Elio ao atravessar o verão que termina, o outono que se aproxima, para chegar ao inverno do seu amadurecimento. E é uma bela cena, a final, entre lágrimas (de um lago outro) e o fogo da lareira (o verão domesticado). E é uma bela cena de renascimento, afinal, em que a mãe o chama pelo seu nome próprio – ELIO – para sentar-se à mesa. E parece Natal.
Foto : Mariana KellerJournée d'études Poésie et RésistanceAppel à communicationsLes études sur la poésie en tant qu’outil de résistance sont multiples, notamment dans les réflexions sur le minoritaire, l’enseignement de la langue maternelle, la formation de lecteurs, la traduction ou sur les autres formes d’expression critique. La Journée d'étude « […]
noreply@blogger.com (Etudes Lusophones Sorbonne Paris IV)
Qu’arrive-t-il à notre histoire ?Quel regard la littérature portugaise et brésilienne porte-t-elle sur les événements majeurs de l'histoire occidentale ? Une rencontre luso-brésilienne exceptionnelle avec les écrivains João Pinto Coelho et Rafael Cardoso qui dévoilent une critique féroce de nos civilisations. Le 14 mars 2018, la Fondation Calouste Gulbe […]
noreply@blogger.com (Etudes Lusophones Sorbonne Paris IV)
Tainá, estrela amante( mitos dos índios Karajá)Por Ciça FittipaldiNo tempo de Kanamahadô, o primeiro Karajá, certa vez, uma jovem chamada Kurimatutu estava olhando pro céu, encantada, vendo uma estrela que era mesmo a mais linda, clareando tudo com seu jeito dourado.Apaixonada por sua beleza, a moça disse que queria pegar a estrela na mão, como flor. Depoi […]
noreply@blogger.com (Etudes Lusophones Sorbonne Paris IV)
Ni partir…ni resterCouronné par les plus grands prix littéraires brésilien et portugais, Ni partir ni rester est un ouvrage remarquable sur la recherche d’une vérité incertaine. Avec une langue tourmentée et poétique, Julián Fuks réussit à sublimer des sujets aussi douloureux que l’exil et l’adoption, à bâtir un texte intime sur la résistance – politique, fa […]
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Não somos um evento, somos um movimento!Nous ne sommes pas un événement, nous sommes un mouvement!Printemps Littéraire BrésilienConsultem a programação no site https://www.printempslitterairebresilien.com/Consultez le programme sur le site https://www.printempslitterairebresilien.com/
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Estar comprometido com os outrosEntrevista de Eliane Brum com Wagner SchwartzComo foi que surgiu a performance? E como é sua relação com essa obra de Lygia Clark?Em 2005, fui convidado para apresentar, em Paris, na programação do Ano do Brasil na França, a minha primeira performance, Transobjeto, que havia estreado no antigo programa Rumos Dança Itaú Cultura […]
noreply@blogger.com (Etudes Lusophones Sorbonne Paris IV)
Le Printemps Littéraire Brésilien 2018 arrive aux Etats-UnisLe Printemps Littéraire Brésilien s’inscrit dans une perspective pédagogique ayant pour objectifs la promotion et la divulgation de la culture lusophone et de ses littératures. Cet évènement annuel se consacre, depuis sa création, au développement de l’enseignement du portugais et de la littérature […]
noreply@blogger.com (Etudes Lusophones Sorbonne Paris IV)
Deputado Odorico Carlos Eduardo PereiraO deputado federal Odorico Magalhães Pederneiras (um republicano, da coligação PHC/PMS/PPBdoB, além de outras sete legendas, não menos representativas do povo brasileiro, e do grande estado do Amapá, em especial a querida gente de Laranjal do Jari, no Magazão, verdadeiramente honrado pela confiança nele depositada, e or […]
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Patrícia Melo à la SorbonneVenez rencontrer l’une des principales voix de la littérature policière brésilienne à la SorbonneLe vendredi 23 février15h -16h30Amphi ChaslesSorbonne Université17 rue de la Sorbonne75005 - ParisOrganisation : Leonardo Tonus (Sorbonne Université)En raison de l'état d'urgence et du plan Vigipirate, merci de bien vouloir co […]
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Foto Marcelo CorreaAutor captura a realidade do migrantenum país em transe A literatura se nutre do real. Cyro dos Anjos Ronaldo Cagiano (*)Finalmente chega a Portugal um dos mais importantes escr […]
noreply@blogger.com (Etudes Lusophones Sorbonne Paris IV)
Niklaus Troxler Hommage to the street philosopher Emil Manser, 2006Niklaus Troxler, 2001Sebastian Fischer, aluno de Troxler, cartaz de uma mostra de cartazes do mestre Troxler, mostra de cartazes tipográficos Mostra de cartazes de alunos de Troxler
Alison Pick - O Trem que Leva a Esperança - Editora Paz e Terra - 322 Páginas - Tradução de Adriana Lisboa do original "Far to Go" de 2010 (Lançamento no Brasil: 12/03/2018)Este é o primeiro livro da premiada escritora e poeta canadense Alison Pick publicado no Brasil. O romance, que foi finalista do Man Booker Prize de 2011, é inspirado na trajetó […]
Canção do Leste Álvaro Mutis Na curva da esquinaum anjo invisível espera;uma vaga neve, um pálido fantasmate dirá algumas palavras do passado.Como água de acéquia, o tempocava em ti seu árduo trabalhode dias e semanas,de anos sem nome e sem lembrança.Na curva da esquinate seguirá esperando inutilmenteesse que não foste, esse que morreude tanto ser tu mesmo […]
EDUARDO, meu Amigo querido, vou dar uma batida hoje no cinema mais próximo da minha casa
120+1
Jorge, querido, gostou? Bjs
“O AMOR EM VISITA”
Quando se fizer o filme das despedidas de amantes em estações de trem, não há nenhuma que se compare às do cinema italiano ou de filmes passados na Itália. Ontem, à saída de “Me chame pelo seu nome”, dizia o rapaz à jovem, talvez a namorada, não gostei do filme, muito longo, não gosto do didatismo do pai (Talvez tenha lido críticas favoráveis ao “120”). Não concordo. No justo discurso do Pai (num ponto remoto do norte da Itália), sabedor do relacionamento homoerótico do filho com o colega pesquisador em visita, o que vejo é a expressão comovida, inteligente, entre uma vivência pessoal homoafetiva não assumida no passado e a experiência adquirida no presente, através do amor do próprio Filho pelo seu visitante, vindo da conservadora Nova Inglaterra. Sobre a pedagogia (não a didática) do amor homoerótico, “120 batimentos por minuto” também nos ensina. São dois filmes tão próximos quanto distantes. Avançar na hipótese exigiria um ensaio, não uma resposta ao meu querido Eduardo. Se houver ensaio, em primeiro lugar, o ritmo entre os dois filmes, prestíssimo no francês – quem morre por Amor tem pressa pela vida – e pianíssimo no italiano – quem morre de Amor não, tem medo da despedida –, marcará os seus batimentos. Em segundo lugar, o papel da Mãe nos dois filmes, seja entre Sean e Nathan, seja entre Elio e Oliver, é uma questão a exigir tempo de ensaio e erro. Talvez por erro de tradução – por onde anda meu francês, ó maître – a reação da mãe chilena (que só aparece no fim) ao saber da morte do filho, Sean, de pai ausente, se manifesta num “droga”, que não me parece ambíguo, sequer (?). Tenho que apurar a “análise”, porém. Voltar ao fim do filme, interpretar a porcentagem de cinzas que também ela quer para si. Para o pai de Elio, na cena da lição “didática” que não agrada ao jovem (talvez) universitário, a mãe não sabe de nada. (Embora o seu silêncio, eloquente no gesto e no olhar parados, o desminta). Igualmente ignorantes (ou cúmplices, talvez, pela juventude) das sexualidades (arqueológicas em certa medida) em exibição na tela, me parecem as jovens, secundárias, usadas como corpos de ensaio para os amantes protagonistas. De ouvido atento às várias línguas faladas e às diferentes linguagens em jogo nos dois filmes, interessa notar o nome em jogo entre o político e o erótico (não necessariamente entre o público e o privado). Num, a AIDS, a droga, a posse da dose justa que a enfrenta, sua economia de troca e propaganda, na luta dos ativistas do Act Up contra o Governo e o Laboratório; noutro, me chame pelo seu nome Elio que eu o chamo pelo meu nome Oliver, uma troca perfeita, na ilusão de amantes de que há rapport sexuel, não uma luta entre dois contrários, um contra o outro. De ouvido de tuberculoso, de professor, digo, de uma coisa eu tenho certeza, foi o tempo quem me confirmou, quando se fizer a sequência das cenas de despedida de amor e dor nas estações de trem, “Me chame pelo seu nome” é já um carro-chefe. Sim. Chame pelo Nome da Mãe para [me] o levar de volta pra casa. E é isso que faz Elio ao atravessar o verão que termina, o outono que se aproxima, para chegar ao inverno do seu amadurecimento. E é uma bela cena, a final, entre lágrimas (de um lago outro) e o fogo da lareira (o verão domesticado). E é uma bela cena de renascimento, afinal, em que a mãe o chama pelo seu nome próprio – ELIO – para sentar-se à mesa. E parece Natal.
“O AMOR EM VISITA”
Um texto transforma-nos. Age.
Eduardo Prado Coelho
Quando se fizer o filme das despedidas de amantes em estações de trem, não há nenhuma que se compare às do cinema italiano ou de filmes passados na Itália. Ontem, à saída de “Me chame pelo seu nome”, dizia o rapaz à jovem, talvez a namorada, não gostei do filme, muito longo, não gosto do didatismo do pai (Talvez tenha lido críticas favoráveis ao “120”). Não concordo. No justo discurso do Pai (num ponto remoto do norte da Itália), sabedor do relacionamento homoerótico do filho com o ex-aluno em visita, o que vejo é a expressão comovida, inteligente, entre uma vivência pessoal homoafetiva não assumida no passado e a experiência adquirida no presente, através do amor do próprio Filho pelo seu visitante, vindo do interior da conservadora Nova Inglaterra. Sobre a pedagogia (não a didática) do amor homoerótico, “120 batimentos por minuto” também nos ensina. São dois filmes tão próximos quanto distantes. Avançar na hipótese exigiria um ensaio, não uma resposta ao meu querido Eduardo. Se houver ensaio, em primeiro lugar, o ritmo entre os dois filmes, prestíssimo no francês – quem morre por Amor tem pressa pela vida – e pianíssimo no italiano – quem morre de Amor não, tem medo da despedida –, marcará os seus batimentos. Em segundo lugar, o papel da Mãe nos dois filmes, seja entre Sean e Nathan, seja entre Elio e Oliver, é uma questão a exigir tempo de ensaio e erro. Talvez por erro de tradução – por onde anda meu francês, ó maître – a reação da mãe chilena (que só aparece no fim) ao saber da morte do filho, Sean, de pai ausente, se manifesta num “droga” (merde?), que, em português soe ambíguo, talvez. Tem um não-sei-o-quê de mal acordado o seu luto. Tenho que apurar a “análise”, porém. Voltar ao fim do filme, interpretar a porcentagem de cinzas que também ela quer para si. Na montagem do texto, um trabalho de corte à maneira do [corte] cinematográfico, vale a pena rever a participação no [h]AJA AGORA da mãe ativista do menino que pegou AIDS via transfusão de sangue, indo ao encontro da mãe da vítima da vez, Sean, ou do seu (im)provável futuro. Para o pai de Elio, na cena da lição “didática” que não agrada ao jovem (talvez) universitário, a mãe não sabe de nada. (Embora o seu silêncio, eloquente no gesto e no olhar parados, o desminta). Ignorantes (ou cúmplices, talvez, pela juventude) das sexualidades (arqueológicas em certa medida) em exibição na tela, me parecem as jovens, secundárias, usadas como corpos de ensaio para os amantes protagonistas. De ouvido atento às várias línguas faladas e às diferentes linguagens em jogo nos dois filmes, interessa notar o nome em jogo entre o político e o erótico (não necessariamente entre o público e o privado). Num, a AIDS, a droga, a posse da dose justa que a enfrenta, sua economia de troca e propaganda, na luta dos ativistas do Act Up contra o Governo e o Laboratório; noutro, me chame pelo seu nome Elio que eu o chamo pelo meu nome Oliver, uma troca perfeita, na ilusão de amantes de que há rapport sexuel, não uma luta entre dois contrários, um contra o outro. De ouvido de tuberculoso, de professor, digo, de uma coisa eu tenho certeza, foi o tempo quem me confirmou, quando se fizer a sequência das cenas de despedida de amor e dor nas estações de trem, “Me chame pelo seu nome” é já um carro-chefe. Sim. Chame pelo Nome da Mãe para [me] o levar de volta pra casa. E é isso que faz Elio ao atravessar o verão que termina, o outono que se aproxima, para chegar ao inverno do seu amadurecimento. E é uma bela cena, a final, entre lágrimas (de um lago outro) e o fogo da lareira (o verão domesticado). E é uma bela cena de renascimento, afinal, em que a mãe o chama pelo seu nome próprio – ELIO – para sentar-se à mesa. E parece Natal.
25/30 de janeiro de 2018